A submissão e o controle de mente são os dois principais fatores que surgem no trabalho de investigação sobre o processo de radicalização conduzido por grupos extremistas. Com a sua própria maneira de interagir, grupos extremistas usam métodos de manipulação, coerção e abuso psicológico para garantir o recrutamento de um indivíduo vulnerável ou fragilizado conforme mostra a pesquisa “A evidência empírica de manipulação e abuso psicológico no processo de doutrinação e induzida radicalização jihadista” de Trujillo, Humberto M., Ferrán Alonso, José Miguel Cuevas e Manuel Moyano divulgada em abril desse ano na Revista de Estudios Sociales da Universidade dos Andes (Colômbia).

Durante o processo, o  indivíduo considerado vulnerável à ideologia radical é envolto numa trama que atinge sua autonomia pessoal, sua identidade e seu ciclo social de modo a garantir sua efetivação no grupo extremista. Qualquer descontentamento na vida do indivíduo, como crise na fé e descrença no governo atual, serve como porta de entrada para ideologias radicais. Com a autonomia abalada e uma crise de identidade, a vítima começa a duvidar do seu verdadeiro eu e tende a se aproximar cada vez mais de ideologias que promotem respostas para questionamentos existenciais e conflitos pessoais enfrentados pelo indivíduo.

O estudo revela que os membros potenciais são guiados por um programa de mudanças de atitudes que tenta apagar ações e ligações anteriores ao ingresso no grupo. Esse programa tem o objetivo de criar uma nova rotina para os possíveis recrutados. Com uma nova onda de costumes sendo instaurada, é crescente, no individuo manipulado, os sentimentos de dependência, medo e desamparo.

Na nova rotina – neste caso, focada na rotina disseminada por grupos jihadistas –  dois fatores são importantes para garantir o sucesso do processo de radicalização: a constante busca pela pureza e o culto de confissão. O primeiro tem o papel de reforçar, para os novos recrutados, que todos aqueles que não participam do grupo são impuros e do mal. O segundo, tem o objetivo de fazer a manutenção de pensamentos extremistas. A confissão serve, em grande parte, para garantir uma vantagem psicológica do líder em relação a seus seguidores. Isso ocorre pela troca de segredos e pensamentos entre as sessões de confissão, o que garante uma hierarquia psicológica.

Com uma mudança na forma de agir, de pensar e socializar, o novo integrante do grupo passa a considerar-se parte de uma “elite” mundial e todos aqueles de fora da célula são considerados inferiores. Segundo os autores, esse tipo de pensamento desempenha papel importante na elaboração das justificativas para um atentado terrorista.

Os resultados da pesquisa sugerem que existe uma liderança ideológica que trabalha em um processo de recrutamento premeditado e em uma doutrinação sistemática. O estudo enfatiza a necessidade de adotar uma conduta que minimize a existência de grupos sociais com alto poder de manipulação que podem, facilmente, persuadir individuos que estejam enfrentando algum tipo de conflito que os deixa em posição de vulnerabilidade.

Acesse o estudo completo:

https://doi.org/10.7440/res66.2018.05

 

Por Gabriel Jereissati (UFRJ – Brazil)

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