Há mais de três meses, a pandemia do novo coronavírus atingiu o Brasil e forçou inúmeros trabalhadores a criarem novos meios de dar continuidade à rotina profissional. Entretanto, sem a possibilidade de ‘home-office’, muitas diaristas, desamparadas pela CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), são dispensadas ou encaram os riscos da Covid-19 para garantir a renda familiar. Contrariando esse cenário, Renata Henze, moradora do Rio de Janeiro, decidiu respeitar o isolamento e manter os pagamentos de Mariza Rodrigues, funcionária da família.

 

Renata, de 58 anos, é enfermeira aposentada e, assim como seu marido, faz parte do grupo de risco da doença. Entretanto, não foi apenas com essa motivação que ela decidiu manter o vínculo salarial sem que a funcionária precisasse trabalhar durante a pandemia. “É uma preocupação não só conosco, mas com ela, também, que teria contato com outras pessoas no transporte”, explica.

 

Há sete anos trabalhando na casa de Renata, Mariza, de 44 anos, ressaltou a importância dessa postura em contraste com a situação de muitos trabalhadores informais. “Achei a atitude dela muito legal, porque tem muita gente que dispensa e não paga o funcionário, não é?”, destaca. Dados recentes do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontam um salto de 1,2 milhão de pessoas desempregadas em comparação ao último trimestre de 2019. Ao todo são 12,9 milhões de pessoas sem emprego.

 

Antes da pandemia, a funcionária trabalhava uma vez por semana na casa de Renata para cozinhar e passar roupas e se submetia a um trajeto de cerca de 1 hora no transporte público, na maioria das vezes, ou a pé para chegar ao emprego. A preocupação de continuar ativa no trabalho ainda se intensificaria por Mariza sofrer de diabetes, o que a põe no grupo de risco do coronavírus. Por isso, a decisão de deixá-la ficar de quarentena em casa, o que a previne de enfrentar tal deslocamento, mostra-se mais do que necessária para sua saúde.

 

Renata explicou que, embora a quarentena tenha afetado a renda familiar com o marido atuando em ‘home-office’, a manutenção do pagamento de Mariza não gera um grande impacto financeiro. Entretanto, para a funcionária, que mora de aluguel com o filho, tal atitude faz toda a diferença. “Se toda patroa fosse igual a dona Renata seria muito bom, porque ela foi uma amiga”, complementa.

 

Atualmente, cerca de 38 milhões de brasileiros trabalham na informalidade, de acordo com o IBGE. Durante a pandemia, essa classe trabalhadora é a primeira a sofrer com a vulnerabilidade e as dificuldades financeiras geradas pela impossibilidade de exercer suas atividades com segurança dentro desse contexto.

Maria N. (UFRJ – Brasil)

 

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