Em julho de 2019, o artigo “The New-Far-Right Movement in Australia” de Jade Hutchinson analisou o crescimento dos movimentos de extrema-direita na Austrália nos últimos anos. Segundo o estudo, os novos partidos de extrema-direita – como One Nation (ou “Uma Nação”) – criaram a narrativa de que as minorias estariam recebendo oportunidades e benefícios injustamente no lugar dos “verdadeiros australianos”. Ao longo do estudo, Hutchinson desconstroi essa narrativa.

A pesquisadora também faz referência ao ciclo vicioso do odio descrito por Julia Ebner na medida em que grupos de extrema-direita usam números de casos de extremismo violento islâmico para justificar ações hostis contra muçulmanos. O estudo indica que essa atitude é responsável por intensificar a islamofobia e xenofobia no país, pois os cidadãos são levados a acreditar que muçulmanos são uma “minoria perigosa” e, portanto, devem ser removidos da sociedade australiana para evitar possíveis ataques terroristas e o avanço do extremismo violento islâmico no país.

 

            Grupos antigos e novos

Segundo o artigo, grupos de extrema-direita australianos são mais diversos, ou seja, eles são formados por pessoas de diferentes etnias. Esses indivíduos multiétnicos e ultranacionalistas foram incluídos no movimento para fortalecê-lo. Vale destacar que essa integração não deve ser vista como respeitosa ao multiculturalismo. A ideologia de extrema-direita ainda percebe outras culturas como inferiores, principalmente muçulmanos.

Nos anos de 2017 e 2018, houve uma grande adesão de indivíduos multiétnicos aos movimentos de extrema-direita australiano. A ideologia, porém, permanece a mesma: existe uma hostilidade em relação aos muçulmanos, que seriam os responsáveis por “contaminar” a cultura australiana com sua religião e cultura.

 

Presença nos meios de comunicação

Hutchinson afirma que os novos grupos de extrema direita são muito ativos na internet, principalmente porque, online, os usuários se sentem mais livres para discutir as ideologias de extrema-direita na medida em que podem permanecer anônimos.

Hutchinson discute ainda a relação entre os meios de comunicação e as narrativas disseminadas pelos grupos de extrema-direita na Austrália, uma vez que muitos deles continuam a reproduzir mensagens produzidas por esses grupos sem analisar o impacto desse tipo de narrativa que estigmatiza determinados segmentos da população.

 

           Novas tendências extremistas violentas

Para Jade Hutchinson, alguns dos novos grupos de extrema-direita estão cadas vez mais vilentos e, de acordo com ela, isso se deve em grande parte à influência dos meios de comunicação – como redes sociais e TV.

Em 2016, o ativista de extrema-direita Philip Galea foi preso por planejar detonar explosivos em grupos de esquerda pró-multiculturalismo. Já em junho de 2017, durante o desfile anti-islâmico “Marcha do Orgulho Australiano” em Melbourne, vários participantes foram presos portando armas, como facas e soqueiras.

Para a pesquisadora está  evidente que os grupos de extrema-direita estão crescendo em tamanho e alcance na Austrália. Isso coloca em perigo os direitos civis, políticos e sociais de minorias, principalmente de muçulmanos. Hutchinson destaca ainda que, caso não seja feita uma intervenção por iniciativas de apoio social, a tendência é que o extremismo violento contra muçulmanos seja normalizado na sociedade.

 

Ana Beatriz B. (Brazil – UFRJ)

 

O artigo está disponível no link:

https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/09546553.2019.1629909

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